Cada vez mais em alta, o mundo do empreendedorismo social é um campo bastante vasto e rico para quem quer investir e impactar a sociedade positivamente. Como toda área, o setor tem sua linguagem própria e que diz respeito também às práticas e aos costumes de quem já está familiarizado. E, como dizem os ditados motivacionais:  “as palavras têm poder”.

No setor de empreendimentos sociais, optar por um termo ou por outro pode revelar, logo de cara, quais são os valores e os objetivos do empreendimento. Para começar, a primeira escolha entre termos passa, necessariamente, por esses dois: negócios sociais ou negócios de impacto? Não, um termo não é sinônimo do outro.

Cada um dos termos implica em orientações muito próprias para os negócios. Portanto, o uso das palavras não deve ser gratuito – embora, na prática, esse cuidado não seja observado no setor.

Segundo levantamento da aceleradora Quintessa, 53% dos empreendedores usam definições próprias para determinar o que são seus negócios se sociais ou de impacto, sem a necessária observância do peso específico de cada palavra.

Qual a diferença?

O termo “negócio social” foi, inicialmente, desenvolvido e popularizado por Muhammad Yunus. Ele é usado para descrever iniciativas empreendedoras que buscam solução a uma questão social ou ambiental.

Ilustrações: Fernanda Sanovicz

Trata-se de negócios economicamente viáveis e lucrativos e que causem impacto e transformação em pessoas em situação de vulnerabilidade, melhorando sua perspectiva e promovendo autonomia. Nos negócios sociais, a comunidade ou o agente que receberá o benefício também pode participar da gestão.

A questão fundamental deste conceito é que,  segundo a Yunus Negócios Sociais Brasil, negócios sociais são empresas que têm a única missão de solucionar um problema social, são autossustentáveis financeiramente e não distribuem dividendos. A sua métrica de sucesso, portanto, é o impacto causado na comunidade, e não o seu lucro.

Cofundador da Sense-Lab, Andreas Ufer ressalta que o termo “não é amplamente reconhecido e aceito com princípios e definições claras para uma gama de atores”.

Ufer ainda afirma que o termo é também recorrentemente associado ao “modelo Yunus” de negócios. “A partir desta perspectiva de Yunus, existe um conflito entre geração de resultado para o acionista e geração de valor social”, comenta. Ou seja, no modelo Yunus todo lucro gerado deve ser reinvestido no negócio.

“Mas é importante observar que o termo é usado de diversas formas e que a descrição aqui explicada é mais uma associação histórica e um uso comum para quem trabalha na área. Para atores externos essas nuances, muitas vezes, passam despercebidas”, comenta Ufer.

A concepção de Yunus passou a ser revista, primeiro, por Stuart Hart e Michael Chu. Hart e Chu defendem a distribuição de dividendos, afim de atrair mais investidores. Tal ação pode permitir também a criação de novos negócios sociais mais rapidamente, atendendo as demandas globais.

“Ademais, [esta ideia] defende que a comunidade empresarial é contrária a ideia de negócios isentos de lucro”, segundo resgate de Rafaellla Baraldo Paráboli Silva, na pesquisa Mapeamento dos desafios encontrados pelos negócios sociais no Brasil (2013).

Para trazer novos investidores, um novo termo

Para atender a esta demanda, ganhou força o termo ‘negócios de impacto social’. Isto é, um modelo que, sim, pode permitir a distribuição de dividendos aos investidores.

“Negócios de impacto social são aquelas empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda”, segundo explica Priscila Martins, gerente de relações institucionais da aceleradora de impacto Artemísia.

Conforme a perspectiva da Artemisia, as principais características dos negócios de impacto social são: foco na baixa renda, intencionalidade, potencial de escala, rentabilidade, impacto social relacionado à atividade principal e distribuição ou não de dividendos.

Sendo assim, para a organização, os negócios de impacto social geram impacto quando “diminuem custos de transação, reduzem condições de vulnerabilidade, ampliam possibilidades de aumento de renda, promovem oportunidades de desenvolvimento e fortalecem a cidadania e os direitos individuais”, explica Martins.

E qual palavra devo escolher?

Ufer salienta, ainda, que “o termo mais amplamente aceito pelos atores do campo de finanças sociais e negócios de impacto é justamente ‘negócio de impacto’ ou ‘negócio de impacto social’ – ou, ainda, com uso menos frequente, ‘negócio de impacto socioambiental’”.

Tal termo foi pacificado pela Força Tarefa de Finanças Sociais, que, em 2015, chegou a uma definição e a princípios comuns para esse tipo de negócio. “Dessa forma, a maior parte dos atores  que se dedicam a essa temática usam o termo ‘negócio de impacto’, sendo que estes podem distribuir dividendos ou não”, completa o empreendedor.

O uso do termo ‘negócio de impacto social’, para quem está buscando por investimento,   irá ajudar no não comprometimento dos  ideais de Yunus quando chegar o momento de gerar e dividir o lucro entre os investidores.

Mas nunca é demais repetir: ‘as palavras têm poder’. Um termo pode, sim, dizer a que veio o empreendimento. E, para o segmento, quanto mais estes termos estiverem sedimentados, pacificados e partilhados como pressuposto comum, melhor.

 

 

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